Apesar do seu tom pejorativo, o medo é uma das reações mais humanas, genuínas e primitivas que se pode observar no comportamento de uma pessoa. É uma reação involuntária que faz parte da nossa natureza. Garanto-lhe que se as pessoas vivessem todas sem medo, a nossa esperança média de vida seria reduzida a menos da metade, pois andaríamos por aí a fazer disparates. Ter consciência que todas as nossas ações terão consequências é o que nos faz parar, refletir e tomar as melhores decisões. Pelo menos, assim o é para a maioria. Existe, pois, uma reduzida percentagem de pessoas cuja vida é movida pela adrenalina quando são expostas a situações de perigo, procurando satisfação em desportos mais radicais, por exemplo. Apesar de, muitas vezes, pensarmos que o medo está ligado a situações instantâneas, a verdade é que vivemos com ele de mão dada em silêncio mais do que aquilo que imaginamos. Costumo dizer que o medo, pode assemelhar-se a um guarda-costas à porta de um edifício que, por vezes, bloqueia o acesso a outras emoções, como por exemplo a tristeza. Este guarda-costas tem a função de proteger, mas ao mesmo tempo retira-nos liberdade. Estamos em constante medo de perder o emprego, de não conseguir pagar as contas, de conduzir, de não dar a melhor educação aos nossos filhos, medo de falhar, medo de sermos abandonados pelo parceiro, medo de arriscar e medo de ficar na mesma. Mas…
O que causa o medo? Apesar de sermos racionais e termos frequentemente noção das coisas que nos causam a sensação de desconforto, a verdade é que o medo vai para além da nossa consciência e controlo intelectual. É o nosso cérebro a pregar-nos partidas que se espalham pelo nosso organismo, ajudando-nos a adaptar da maneira mais eficiente a uma situação de perigo iminente. Cientificamente falando, começa tudo numa pequena parte do cérebro que se chama a “Amígdala”.
Eis como lhe consigo simplificar isto: a amígdala é um conjunto de núcleos em forma de amêndoa localizada no nosso lobo frontal sendo dedicada a detetar a saliência emocional dos estímulos. Ela reage quando existe um estímulo de ameaça, ajudando a libertar hormonas de stress e ativando a nossa resposta ao medo. A parte do nosso cérebro que se chama hipocampo está diretamente ligada à amígdala. O hipocampo e o córtex pré-frontal ajudam o cérebro a interpretar a ameaça percebida. Processam o contexto e ajudam a pessoa a entender se a ameaça é efetivamente real.
Quais são os sinais do medo? Como pode identificá-lo? O corpo de cada pessoa é único, e a maneira como cada um de nós perceciona as coisas também o são. É absolutamente normal que as pessoas reajam de maneira diferente às mesmas situações de perigo. No entanto, existem sinais comuns que se podem verificar na maior parte das pessoas. São eles:
Palpitações irregulares e fortes no coração;
Falta de ar;
Suores e calafrios;
Mal-estar no sistema digestivo;
Contração dos músculos;
Secura na boca.
Então…
Como respondemos ao medo?
A verdade é que só tem duas hipóteses. Ou reage ativamente, ou então congela completamente no tempo e no espaço. Quem nunca sofreu desse “curto-circuito” quando menos precisava que se acuse.
Reação ativa: lutar ou fugir. Aqui qualquer humano vira super-herói! Os seus batimentos cardíacos aumentam, aumentando a circulação de oxigénio para os seus músculos. Diminui a perceção da dor e a sua audição ganha uma nova vida.
Reação passiva: bloquear - O nosso corpo congela e não conseguimos reagir. O medo, por vezes, paralisa-nos, impedindo de agir.
O medo é um mecanismo de proteção que nos mantém alerta e vivos. Mas lembra-se que quando esse sentimento evolui e passa a comprometer o seu dia-a-dia e as suas relações, é fundamental procurar ajuda profissional. O nosso mecanismo de proteção não deve, de todo, tomar conta de nós e privar-nos de momentos interessantes que embelezam a nossa vida.
O que poderá estar a causar o seu medo?
Muitos são os aspetos que parecem acordar os nossos medos. Nunca pense que os seus medos são ridículos. Todos são legítimos e podem ser resultado de uma alteração das lentes com que vê o mundo. Existem sim, alguns fatores que podem servir de trigger para si:
Traumas passados que podem vir desde a infância;
Receios alimentados pela sociedade;
Situações de stress que possa estar a viver agora;
Percepção distorcida do que o rodeia.
O importante é saber…
Como pode ultrapassar o medo? Lembra-se do que mencionei ao longo deste artigo. O medo faz parte da natureza Humana e devemos aprender a coexistir com ele. Não se pode livrar desta emoção intrínseca à sua Natureza, mas pode aprender e enganá-la.
Exponha-se mais às situações que lhe são desconfortáveis. Quanto mais se desafiar, mais rapidamente irá familiarizar-se com as situações que lhe causam desconforto. Mas se for abaixo, está tudo bem. Às vezes, é preciso dar um passo para trás para dar dois passos em frente!
Faça sessões de yoga e meditação. Nada como um pouco de paz para a alma e a cabeça, não é verdade?
Pratique a gratidão. Não imagina a diferença impactante que um olhar mais positivo terá sobre a perceção da sua vida!
Aprenda a rodear-se de pessoas que merecem o seu tempo e atenção. Um sistema de suporte estável, tal como amigos e família, irá tornar os seus medos bem mais pequenos.
Comece a fazer journaling. Este ponto traz imensos benefícios, mas um dos principais é a auto-reflexão! Nada como se conhecer ainda melhor a cada dia que passa.
Cuide de si. Garanta as suas horas de sono, tente manter uma alimentação equilibrada e faça exercício físico mesmo que a preguiça lhe diga o contrário.
E claro, se sentir demasiado desconforto emocional, procure ajuda profissional. Um bom psicólogo conseguirá aliviar a sua dor ao ensinar-lhe a lidar com ela.
Se ainda tiver algumas dúvidas ou questões, entre em contacto comigo para lhe poder dar um acompanhamento mais personalizado. E lembre-se, por vezes, o que o assusta também o protege.
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